Os revolucionários de toda a América Latina acompanham com apreensão os últimos acontecimentos na Bolívia. Apoiados pelo imperialismo norte-americano, a oligarquia boliviana, através de bandos para-militares, atacou nas últimas semanas indígenas e simpatizantes do presidente Evo Morales. O alvo desses bandos inclui prédios governamentais, aeroportos e até os gasodutos que transportam gás para o Brasil. O caso mais grave aconteceu no departamento de Pando, onde dezenas de indígenas e camponeses apoiadores de Evo Morales, foram atacados por uma milícia comandada pelo governador de direita, Leopoldo Fernández, quando se dirigiam para um ato em solidariedade ao governo. O número de mortos no massacre já chega a 30, incluindo crianças e grávidas.
O objetivo da oligarquia boliviana com todas essas manifestações violentas, é o de produzir uma situação de caos, que force o governo a aceitar uma maior autonomia das províncias produtoras de hidrocarbonetos. A oligarquia dominante nessas províncias, de perfil racista e de uma rapacidade ilimitada, não admite que a imensa riqueza existente sob seus pés, seja utilizada para diminuir a grande pobreza do país. Querem o controle privado e absoluto dos lucros oriundos da exploração do gás e do petróleo produzidos nas províncias que administram.
A oligarquia boliviana da região conhecida como “meia-lua” corre contra o tempo para efetivar sua autonomia frente ao poder central de La Paz. Uma autonomia que significará, na prática, a independência econômica e política desses departamentos. Essa corrida contra o tempo visa impedir que a nova Constituição, redigida a partir da posse de Evo Morales, seja aprovada em referendo popular no mês de janeiro de 2009. A nova Carta Magna refunda a Bolívia, pois prevê uma reforma agrária e limita o tamanho da propriedade agrícola, impedindo a privatização e a concessão dos serviços públicos considerados essenciais como a água (cuja privatização do serviço em Cochabamba gerou uma revolta popular nesse departamento em 2001) e colocando toda a riqueza mineral (incluindo os hidrocarbonetos) como patrimônio do povo boliviano e sob controle do Estado, que deve usar toda essa riqueza para melhorar as condições de vida da população do país mais pobre da América do Sul.
O cálculo da oligarquia boliviana é simples: se Evo Morales recebeu no referendo revogatório de 10 de agosto 67,41% de apoio popular, muito acima dos 53,3% com que foi eleito em 2005, tudo indica que a nova Constituição será aprovada por ampla maioria. Só resta como única saída criar, através dos bandos para-militares fascistas uma situação de caos que obrigue o governo de Evo Morales a recuar e aceitar o estatuto autonômico proposto pela direita. Caso esse recuo não aconteça, buscam produzir uma situação de guerra civil que leve a separação efetiva das províncias do resto do país.
Frente a essa situação grave, causa a todo revolucionário latino-americano uma grande apreensão pela maneira demasiadamente cautelosa com que o governo Evo Morales reage a tentativa golpista. Uma cautela tão grande que chega a parecer condescendência para com os bandos fascistas que levam o terror às províncias dominadas pela oligarquia. É certo que julgar a situação boliviana a milhares de quilômetros de distância é mais confortável. Não viver o calor do combate torna a capacidade de análise mais restrita, pois não temos a dimensão exata de toda a situação, nem tampouco sabemos o que se passa em seus bastidores.
Ainda assim, nos sentimos capazes ao menos de opinar a partir das informações fragmentadas que nos chegam pela grande imprensa que, como sabemos, trabalha a serviço do capital.
Em primeiro lugar, sabe-se da existência de uma divisão no comando das forças armadas, entre setores que apóiam o presidente Evo Morales e os que apóiam a oligarquia (como denunciou o presidente venezuelano Hugo Chávez). Como sabemos, os setores pró-oligarquia das forças armadas não reagiram com vigor às ações terroristas e delinqüentes da direita boliviana. Por quê, então, os comandantes pró-oligarcas não foram afastados? Se uma parte do alto comando das forças armadas está com o governo, além de uma parte ainda maior da baixa oficialidade e a quase totalidade dos soldados, por quê não lhes atribuem maiores poderes? Foram estes setores os responsáveis por se manterem em Pando, província onde ocorreu o massacre de mais de 30 apoiadores do governo, contra a decisão do chefe das forças armadas da Bolívia, general Luis Trigo, pró-oligarquia, que queria retirá-los da região e deixá-la à mercê dos bandos para-militares e fascistas. A cadeia de comando e a hierarquia militar foram quebradas, mostrando claramente a existência de um setor das forças armadas, em defender o governo de Evo Morales.
Outra questão diz respeito à repressão as manifestações dos bandos fascistas. Para alguns setores de esquerda, causa horror e repulsa o uso da força militar, em um continente cujo passado é de ditaduras antipopulares sangrentas. É certo, também, que a direita boliviana busca intensificar os conflitos para produzir um “mártir” para sua causa. Porém, uma coisa é reprimir manifestantes com o claro intuito de feri-los mortalmente. Outra, é desarmar as forças policiais e militares, deixando-as vulneráveis à ação dos bandos fascistas. Causava estupor as cenas de policiais feridos com pedras e paus pelos delinqüentes da oligarquia boliviana. Algumas informações davam conta de que militares e policiais reclamavam da inação de Evo Morales em impedir, pela força das armas, a balbúrdia que os comitês cívicos causaram por vários dias.
Entendemos a preocupação do governo boliviano. Porém, a falta de uma ação mais enérgica pode, para os opositores de direita, soar como fraqueza e debilidade e, para os apoiadores de Evo atacados pelos bandos fascistas, como abandono e falta de pulso para lidar com a situação. Alem do mais, se os responsáveis pelo caos instalado nas províncias da “meia-lua” é de responsabilidade de um grupúsculo de bandidos e delinqüentes, não se tratando portanto de manifestações populares e massivas, por quê não reprimi-los?
Em último lugar, soa como fora de propósito buscar um diálogo que resulte em um acordo com a direita boliviana. Estão claros seus propósitos de se apropriarem privativamente da imensa riqueza energética do país, bem como impedir mudanças constitucionais que lhes retirem seus privilégios e firam seus interesses. Seu caráter abertamente autoritário e fascista está em seus discursos racistas, que chamam o presidente boliviano de “macaco” por causa de sua origem indígena. Como se pode , então, buscar o diálogo e querer um acordo com líderes políticos que pregam abertamente uma guerra civil e a necessidade de correr sangue para solucionar o conflito instalado no país? Os acontecimentos em Pando, com o massacre de indígenas e camponeses pró-Morales, não é exemplo bastante de que com essa oligarquia não há acordo possível?
Não temos suficientes informações sobre os debates que devem estar acontecendo na cúpula do governo boliviano e na direção do MAS. É possível que a estratégia de não agir com o rigor devido ou desejado em uma situação como essa, tenha por fito deixar que as próprias ações da direita, violentas e racistas, levem por si mesmas ao seu desgaste e isolamento interno e externo. Se a estratégia for mesmo essa que estamos a imaginar, esperemos que ela esteja correta. Do contrário, a falta de uma ação mais enérgica poderá trazer uma grave derrota aos povos latino-americanos.
O objetivo da oligarquia boliviana com todas essas manifestações violentas, é o de produzir uma situação de caos, que force o governo a aceitar uma maior autonomia das províncias produtoras de hidrocarbonetos. A oligarquia dominante nessas províncias, de perfil racista e de uma rapacidade ilimitada, não admite que a imensa riqueza existente sob seus pés, seja utilizada para diminuir a grande pobreza do país. Querem o controle privado e absoluto dos lucros oriundos da exploração do gás e do petróleo produzidos nas províncias que administram.
A oligarquia boliviana da região conhecida como “meia-lua” corre contra o tempo para efetivar sua autonomia frente ao poder central de La Paz. Uma autonomia que significará, na prática, a independência econômica e política desses departamentos. Essa corrida contra o tempo visa impedir que a nova Constituição, redigida a partir da posse de Evo Morales, seja aprovada em referendo popular no mês de janeiro de 2009. A nova Carta Magna refunda a Bolívia, pois prevê uma reforma agrária e limita o tamanho da propriedade agrícola, impedindo a privatização e a concessão dos serviços públicos considerados essenciais como a água (cuja privatização do serviço em Cochabamba gerou uma revolta popular nesse departamento em 2001) e colocando toda a riqueza mineral (incluindo os hidrocarbonetos) como patrimônio do povo boliviano e sob controle do Estado, que deve usar toda essa riqueza para melhorar as condições de vida da população do país mais pobre da América do Sul.
O cálculo da oligarquia boliviana é simples: se Evo Morales recebeu no referendo revogatório de 10 de agosto 67,41% de apoio popular, muito acima dos 53,3% com que foi eleito em 2005, tudo indica que a nova Constituição será aprovada por ampla maioria. Só resta como única saída criar, através dos bandos para-militares fascistas uma situação de caos que obrigue o governo de Evo Morales a recuar e aceitar o estatuto autonômico proposto pela direita. Caso esse recuo não aconteça, buscam produzir uma situação de guerra civil que leve a separação efetiva das províncias do resto do país.
Frente a essa situação grave, causa a todo revolucionário latino-americano uma grande apreensão pela maneira demasiadamente cautelosa com que o governo Evo Morales reage a tentativa golpista. Uma cautela tão grande que chega a parecer condescendência para com os bandos fascistas que levam o terror às províncias dominadas pela oligarquia. É certo que julgar a situação boliviana a milhares de quilômetros de distância é mais confortável. Não viver o calor do combate torna a capacidade de análise mais restrita, pois não temos a dimensão exata de toda a situação, nem tampouco sabemos o que se passa em seus bastidores.
Ainda assim, nos sentimos capazes ao menos de opinar a partir das informações fragmentadas que nos chegam pela grande imprensa que, como sabemos, trabalha a serviço do capital.
Em primeiro lugar, sabe-se da existência de uma divisão no comando das forças armadas, entre setores que apóiam o presidente Evo Morales e os que apóiam a oligarquia (como denunciou o presidente venezuelano Hugo Chávez). Como sabemos, os setores pró-oligarquia das forças armadas não reagiram com vigor às ações terroristas e delinqüentes da direita boliviana. Por quê, então, os comandantes pró-oligarcas não foram afastados? Se uma parte do alto comando das forças armadas está com o governo, além de uma parte ainda maior da baixa oficialidade e a quase totalidade dos soldados, por quê não lhes atribuem maiores poderes? Foram estes setores os responsáveis por se manterem em Pando, província onde ocorreu o massacre de mais de 30 apoiadores do governo, contra a decisão do chefe das forças armadas da Bolívia, general Luis Trigo, pró-oligarquia, que queria retirá-los da região e deixá-la à mercê dos bandos para-militares e fascistas. A cadeia de comando e a hierarquia militar foram quebradas, mostrando claramente a existência de um setor das forças armadas, em defender o governo de Evo Morales.
Outra questão diz respeito à repressão as manifestações dos bandos fascistas. Para alguns setores de esquerda, causa horror e repulsa o uso da força militar, em um continente cujo passado é de ditaduras antipopulares sangrentas. É certo, também, que a direita boliviana busca intensificar os conflitos para produzir um “mártir” para sua causa. Porém, uma coisa é reprimir manifestantes com o claro intuito de feri-los mortalmente. Outra, é desarmar as forças policiais e militares, deixando-as vulneráveis à ação dos bandos fascistas. Causava estupor as cenas de policiais feridos com pedras e paus pelos delinqüentes da oligarquia boliviana. Algumas informações davam conta de que militares e policiais reclamavam da inação de Evo Morales em impedir, pela força das armas, a balbúrdia que os comitês cívicos causaram por vários dias.
Entendemos a preocupação do governo boliviano. Porém, a falta de uma ação mais enérgica pode, para os opositores de direita, soar como fraqueza e debilidade e, para os apoiadores de Evo atacados pelos bandos fascistas, como abandono e falta de pulso para lidar com a situação. Alem do mais, se os responsáveis pelo caos instalado nas províncias da “meia-lua” é de responsabilidade de um grupúsculo de bandidos e delinqüentes, não se tratando portanto de manifestações populares e massivas, por quê não reprimi-los?
Em último lugar, soa como fora de propósito buscar um diálogo que resulte em um acordo com a direita boliviana. Estão claros seus propósitos de se apropriarem privativamente da imensa riqueza energética do país, bem como impedir mudanças constitucionais que lhes retirem seus privilégios e firam seus interesses. Seu caráter abertamente autoritário e fascista está em seus discursos racistas, que chamam o presidente boliviano de “macaco” por causa de sua origem indígena. Como se pode , então, buscar o diálogo e querer um acordo com líderes políticos que pregam abertamente uma guerra civil e a necessidade de correr sangue para solucionar o conflito instalado no país? Os acontecimentos em Pando, com o massacre de indígenas e camponeses pró-Morales, não é exemplo bastante de que com essa oligarquia não há acordo possível?
Não temos suficientes informações sobre os debates que devem estar acontecendo na cúpula do governo boliviano e na direção do MAS. É possível que a estratégia de não agir com o rigor devido ou desejado em uma situação como essa, tenha por fito deixar que as próprias ações da direita, violentas e racistas, levem por si mesmas ao seu desgaste e isolamento interno e externo. Se a estratégia for mesmo essa que estamos a imaginar, esperemos que ela esteja correta. Do contrário, a falta de uma ação mais enérgica poderá trazer uma grave derrota aos povos latino-americanos.
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