segunda-feira, 9 de março de 2009

Gramsci: Textos e estudos difíceis

Textos e estudos difíceis...
(...) Sim, é verdade, temos publicado artigos “longos”, estudos “difíceis”, e continuaremos a faze-lo, quando o requererem a importância e a gravidade dos argumentos, na linha do nosso programa: não queremos esconder nenhuma dificuldade, acreditamos que a classe trabalhadora adquire, a partir de hoje, consciência da extensão e da seriedade das tarefas que lhe incumbirão amanhã, cremos honesto tratar os trabalhadores como homens a quem se fala abertamente, cruamente, das coisas que lhes dizem respeito. Infelizmente os operários e os camponeses foram considerados durante muito tempo como crianças que tem necessidade de serem sempre guiadas, na fábrica e no campo, pelo punho de ferro do patrão, aplicado sobre a nuca, na vida política pela palavra retumbante e melíflua dos demagogos encantadores. No campo da cultura, portanto, operários e camponeses foram e são ainda considerados, pela maior parte, como uma massa que se pode facilmente contentar com material de pacotilha, com pérolas falsas e restos, reservando para os eleitos os diamantes e as outras mercadorias de valor. Não há nada de mais inumano e anti-socialista do que esta concepção.
Se há no mundo qualquer coisa que tem um valor, todos são dignos e capazes de a apreciar. Não existem duas verdades nem dois diversos modos de discutir. Não há nenhum motivo pelo qual um trabalhador deva ser incapaz de conseguir gostar de um canto de Leopardi mais do que duma guitarrada, suponhamos, de Felice Cavalloti ou de outro poeta “popular”, de uma sinfonia de Beethoven mais que duma canção de Piedigrotta.
E não há nenhum motivo pelo qual, dirigindo-se a operários e camponeses, tratando os problemas que lhes dizem respeito tão intimamente, como os da organização da sua comunidade, se deva usar de um tom menor, diverso do que convém usar para tais problemas. Quereis que quem tem sido sempre escravo se transforme num homem ? Começai a tratá-lo, sempre, como um homem, e o maior passo em frente estará dado.
Antonio Gramsci
L’Ordine Nuovo (1919)

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